A Cidade Modernista: Uma Crítica de Brasília e Sua Utopia

Companhia das Letras (São Paulo), 1993
• 368 página, 91 figuras, tabelas e mapas
• Edição revisada e tradução de The Modernist City (1989)
• Segunda edição, 2010
• Traduzido por Marcelo Coelho

Quarta capa
Este livro abre perspectivas inovadoras para o estudo das cidades e da sociedade, demonstrando o potencial da antropologia para desenvolver uma crítica da modernidade. Unindo análise formal de convenções arquitetônicas e de planejamento urbano e análise sócio-econômica, James Holston exibe as contradições inerentes à racionalidade e ao projeto utópico modernos, tal como encarnados na nova capital do país.

Orelhas
A Cidade Modernista mostra que mesmo as utopias feitas de concreto e cimento armado podem ser minadas por suas próprias contradições internas. O que James Holston faz aqui é uma crítica extremamente original e perspicaz de Brasília tanto como projeto urbanístico e arquitetônico quanto como projeto político. Analisando a capital do país desde a sua fundação em 1957 até os dias de hoje, ele exibe os paradoxos inerentes às concepções modernas de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer e às teorias desenvolvimentistas do governo de Juscelino Kubitschek. Tanto do ponto de vista deste quanto daqueles, Brasília representava uma ruptura completa com o passado. Era como se o futuro da nação surgisse literalmente do nada, no planalto Central, pois a cidade, tal como concebida por seus idealizadores, pretendia abolir não só hábitos arraigados de convívio social como a própria estrutura de classes da sociedade brasileria.

Utilizando-se de uma perspectiva interdisciplinar, que, sob a égide unificadora da antropologia, combina, entre outras coisas, história da arte, história do Brasil e análise sócio-econômica, o autor examina diversos aspectos dessa tentativa de ruptura radical com o passado que afinal não concretizou, ou se concretizou apenas em parte, mas ao preço de contradizer as próprias premissas em que se assentava.  Sob o aspecto urbanístico, Holston se detém numa das características mais evidentes da nova capital: a abolição das ruas, das esquinas, e, conseqüentemente, dos pedestres.  Sob o aspecto arquitetônico, ele focaliza a “televisão” do cidadão brasiliense: as fachadas envidraçadas dos prédios.  Sob o aspecto político, enfim, mostra como a racionalidade e o igualitarismo que estão por trás dessas concepções inovadoras da cidade caem por terra na medida em que a própria mão-de-obra que a ergueu, o “candango”, se viu relegada à sua periferia, às chamadas cidades-satélites.  Assim da mesma forma como os habitantes de Brasília buscaram, aqui e ali, criar simulacros de ruas e retornaram às fachadas tradicionais dos edifícios, também as estruturas sociais existentes no resto do país não só se reproduziram na nova capital como inclusive se acentuaram, criando uma separação geográfica drástica entre elite e povo.